A Reencarnação e Missão de um Espírito I
*Enoque Alves Rodrigues
Por vezes não é fácil levarmos adiante nossa missão. Quando, no Mundo Espiritual mãos caridosas nos preparam para a reencarnação no Orbe Terrestre, contagiante alegria nos invade o ser. Como se fôssemos crianças a caminho da Disney, somos arrebatados por indescritível felicidade. Eufóricos, damos pulinhos de contentamento enquanto os nossos piedosos instrutores nos observam, passando, de quando em vez, tal qual fazia o meu saudoso avô, a mão na barba como se a dizer: seja feliz, filho. Nós estaremos com você... Mas você não imagina o que lhe espera. Você está pensando que vai retornar a Terra em veraneio? Você acha mesmo que o que te espera lá em baixo é um belo parque de diversões? Pois, sim!
Nesse entrementes, aqui na terra, nossa futura mãezinha de sexta viagem com a barriguinha de nove meses prestes a explodir para nos lançar de vez à nova realidade, faz festas e planos à nossa espera. Primeiro compra dois enxovalzinho. Como não sabe qual será o nosso sexo (pois estou me referindo aos velhos tempos da parteira), compra um azul e outro rosa. Lá fora o nosso futuro paizão fresco, alegre, torcendo para que o rebento nasça homem para lhe ajudar no roçado já que das cinco boquinhas anteriores, três são meninas, reúne a peonada enquanto salgam um cabrito que tão logo o evento se concretize irá para o forno a lenha. Na cozinha, Quitéria, a velha parteira encarregada de trazer ao mundo todas as gerações daquele lugarejo das Minas Gerais, minha terra, “esteriliza os seus instrumentos cirúrgicos”.
Os nossos futuros irmãozinhos materiais impacientes e ouriçados correm a brincar, de um lado para o outro, mas sempre com as cabecinhas pensativas a imaginar o novo intruso que está a caminho para disputar com eles às atenções e cuidados, o amor de mãe, a comida pouca, o diminuto espaço, a mesma cama, etc. Curiosos, criança é assim mesmo só muda de endereço, vez por outra dão uma olhada pela fresta da janela onde sobre límpido lençol branco sobre um catre de madeira e couro de boi, jaz, feliz, a mãe, divino ser, cujo semblante iluminado pela Luz Divina dá sinal de que é chegada a hora. Dali a instantes as contrações serão mais fortes e frequentes à maneira que o “intruso” lá dentro, em desespero em ver logo a luz desse mundão de provas e expiações se esperneia.
- Quitéria, oh, Quitéria, ajude-me, por favor!
Em fração de segundos, como um raio, aquela bondosa velhinha, cujos janeiros, deixaram de contar quando virou a curva dos oitenta, entra nos aposentos de nossa mãe parturiente. Trazia à mão uma grande bacia de alumínio com água morna e entre os seios, folhas de fumo que eram utilizadas para amarrar o cordão umbilical do recém-nascido. Aliás, esse primitivo costume, de há muito abolido do nosso meio era a causa maior de mortes pueris quando a criança acometida por tétano falecia aos sete dias dai o nome de mal de sete dias.
Meia hora depois, apreensivos lá fora, ouvem-se o som característico de tapinhas no bumbum seguidos de choro de bebê e de uma voz rouca e cansada...
- “É home, sinhô... Saco roxo de primera... Pode sortá os fuguete e aprepará as bibida e os guisado.”.
Era tudo o que eles queriam escutar. Mal a parteira fechou a boca e a barulheira se estrondava lá fora. Sob efeitos de um entusiasmo etílico, abraçavam efusivamente o novo pai, dirigindo-se todos, na tentativa de adentrarem ao mesmo tempo aquele exíguo espaço aonde a deusa do lar ainda se recompondo das dores do parto, acabava de cumprir com mais uma sagrada missão com a qual O Mestre Maior agraciou todos os seres femininos sobre a face da terra.
Deram àquele espírito que ali reencarnava o nome de Cláudio que tinha importantes missões a desenvolver na terra. Ele foi enviado na verdade com várias missões a cumprir, mas uma delas especialmente sobressaia-se ás demais. Nesta ele não podia sequer pensar em naufragar.
Conseguiu, Cláudio, levar adiante suas missões? Negligenciou com alguma delas? E no que se refere à missão mais importante na qual ele não podia falhar o que aconteceu?
É o que veremos nos próximos capítulos.
Aguardem!
* Enoque Alves Rodrigues é espírita