QUAL É O APITO QUE VOCÊ TOCA?

QUAL É O APITO QUE VOCÊ TOCA?

*Enoque Alves Rodrigues

Enquanto peregrinarmos por este Planeta de expiações e provas, estaremos sempre vulneráveis a toda sorte de incertezas, inseguranças e contradições, pelo simples fato destas sensações, consciente ou inconscientemente fazerem parte de nossa vida, arraigadas que estão em nossa própria personalidade, congenitamente. Para o que não tem solução, dizia Confúcio, solucionado está. Portanto, aprender a conviver e tolerar estas distorções ainda são o melhor remédio, desde que tenhamos sensibilidade suficiente para sabermos distinguir e separar adequadamente tudo aquilo que venha exceder aos pequenos desvios a fim de não corrermos o risco de vir a incorporá-los ao nosso “modus vivendi” de maneira definitiva e assim nos distanciarmos do caminho que a espiritualidade maior traçou para nós e que no pleno exercício de nosso livre arbítrio escolhemos percorrer.

Ao contrário do que possamos imaginar, não é nada fácil filtrarmos desvios, quase imperceptíveis, em nosso dia a dia. A pequena introdução acima composta de apenas 125 palavras que a principio se encontram em perfeita consonância e coerência já justificam mencionadas dificuldades eivadas que estão de contrassensos que saltam aos olhos. Senão vejamos:

Primeiro quero enfatizar que conviver e tolerar não são o mesmo que aceitar. Assim sendo, admitir que algum problema esteja solucionado apenas por que as dificuldades que encontramos e tentativas de resolvê-lo restaram-se infrutíferas, significa, antes de tudo, aceita-los como são bem como a nossa total falência moral, além de caracterizarem, vergonhosamente, nossa inteira acomodação, inércia, despreparo e falta de seriedade na tomada de decisões concretas e eficazes. Os problemas não se resolvem por si. Se nem mesmo nós, que fomos criados à imagem e semelhança de Deus estamos prontos e acabados por que razão ás coisas que Ele fez e colocou ao nosso alcance estariam? A luta constante que empreendemos em busca de nossa perfeição o que significa que temos consciência de nossos defeitos e de que necessitamos melhorar a cada dia é a mesma inerente ás coisas que nos cercam. Não podemos imaginar que Deus em Sua infinita Bondade, Sabedoria e Justiça nos dariam, sem esforço algum de nossa parte, coisas prontinhas e desvinculadas de seu ônus natural. Se assim fosse, que oportunidade nós teríamos de melhorar e evoluir em cada encarnação? Não podemos nos esquecer de que a régua com a qual “Eles” nos medem foi aferida e calibrada por instrumentos de absoluta precisão exatamente no laboratório das dificuldades e obstáculos e que o seu índice de grandeza e assertividade tem como parâmetros a nossa força, dedicação, persistência, coragem, superação e resiliência no enfrentamento de batalhas travadas com tais barreiras que nos tornam melhores juntamente com as coisas que adequamos ao nosso redor. Mudar é preciso. Tudo é mutável. Quem aceita tudo do jeito que está não tem o direito de reclamar de nada. Se você não conseguir mastigar, também não vai conseguir engolir. Se você, teimoso, engolir sem mastigar com certeza vai ter problema na hora de se “livrar da coisa”. Viu ai? Até mesmo nessa tosca comparação Deus exige o nosso esforço.

Lembre-se de que Deus é perfeitamente perfeito. Redundância? Pleonasmo? Sim. E daí? Se Deus é perfeitamente perfeito, somos compelidos a admitir que a Sua Bondade e Tolerância para conosco estão dentro dos limites de Sua Justiça e esta palavra está vinculada a outra denominada imparcialidade. Dentro da justiça e imparcialidade muitas vezes você quer ajudar e não pode. A sua ajuda, em muitos casos, ao invés de somar ou agregar funcionaria contrariamente. Se toda vez que cairmos, ao invés de buscarmos dentro de nós as forças que já nasceram conosco, formos invocar a Deus ou aos espíritos a sua ajuda e proteção, que diabos estaremos fazendo aqui? De quantas encarnações ainda vamos necessitar para resgatarmos os nossos débitos e atingirmos a perfeição que Deus espera de nós? Afinal, qual é o apito que você toca? De que lado você está? Do caçador que mesmo percebendo, ao levantar-se, que aquele dia não seria propicio para a caça, foi lá e caçou, ou do lado daquele que apenas pensou que o dia não estaria ótimo para ir caçar e, portanto, sequer se levantou?

A vida nos obriga a tomar decisões em todos os segundos que dela participamos. Erros e acertos, fracassos e vitórias indicam que estamos nos movendo na tentativa de modificar a nós e as coisas por que não estamos satisfeitos e que queremos crescer e evoluir e dessa forma abusar o mínimo possível da vontade de Deus.

Definitivamente o muro não é um lugar bom e aprazível para quem deseja realmente participar da vida e crescer. A menos que você já tenha morrido e não faça mais parte deste mundo. Neste caso não sei por que razão você ainda me lê. Aos vivos que continuam no meio de nós, recomendo:

Pensem nisso e sejam felizes.

E tenho dito.

*Enoque Alves Rodrigues é espirita