LINHAS CRUZADAS IV – RENASCER AINDA E...
*Enoque Alves Rodrigues.
Na pedra que pesa seis toneladas que se encontra sobre o túmulo do líder máximo da Doutrina Espírita em todo o Mundo, Allan Kardec, no Cemitério de Paris, encontram-se escritas as seguintes palavras: “nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre. Tal é a Lei”. São inúmeras as interpretações dadas pelos grandes detentores do saber inclusive no Mundo Espírita a respeito do que representaria essa frase assim como o seu principal objetivo. Atribuem-na ao próprio Kardec e ás vezes aos Espíritos quando ditavam ao Professor Rivail a Obra Prima da Terceira Revelação denominada “O Livro dos Espíritos”.
No entanto, este meu curto preâmbulo onde faço breve alusão á mencionada frase não tem por premissa lançar luz ao esclarecimento tampouco fomentar polêmicas centenárias e inexplicáveis desde o momento em que a grafaram em 1870. Não me enveredaria nessa tentativa por que me faltam conhecimentos básicos e ultimamente não estou muito afeito a abandonar, ainda que por alguns instantes, a zona de conforto onde me situo no que tange a não se envolver com temas complicados.
Então, por que razão eu faço essa referência? Bem, isso eu posso e consigo explicar. É que tal frase me remete a uma época já distante a qual vivenciei há quarenta anos. Vamos aos fatos.
Em março de 1973 eu me encontrava no Lar da Prece do amigo Chico Xavier em Uberaba aonde ia sempre que tinha uma folguinha em meu trabalho na Mendes Júnior.
Dona Izildinha era uma frequentadora assídua daquela casa de bênçãos. Não faltava a uma só seção de trabalho. Era de todos conhecida. Não pertencia ao grupo de apoio do amado Médium, mas ela funcionava como se o fosse. Inconformada contumaz, não se deixava convencer enquanto em sua cabeça grisalha de senhora sexagenária pairasse alguma dúvida sobre a mais simples e comezinha questão. Qualquer assunto não muito claro em sua mente era motivo para “questão de ordem”. Ela era assim: parecia o “explicadinho”, aquele personagem comediante que dizia gostar de tudo muito bem explicado em seus mínimos detalhes.
Naquele dia a discussão que ela levantou ainda na fila onde aguardávamos nossa vez de entrar para consulta com Chico era exatamente a palavra “morrer” da frase do túmulo. Dizia dona Izildinha: Por que morrer se vai ter de renascer para progredir? Por que Deus não se Poupa de tanto trabalho? Não seria melhor e mais producente se Ele nos desse uma vida materialmente longa onde pudéssemos purgar de todos os nossos pecados aqui mesmo na terra? Assim morreríamos uma única vez e o nosso espírito subiria em igualdade de perfeição junto aos demais. Isso inclusive dispensaria o imenso trabalho que Deus tem para manter “o pessoal do Umbral, Casa do Auxílio e Hospitais nas Cidades e Colônias Espirituais” para preparar e recuperar todo esse povo para a Espiritualidade Maior.
- Não pode ser assim, Izildinha, disse-lhe dona Dalva.
- Como não? Seria muito mais simples!
- Talvez, respondeu-lhe novamente Dalva, mas com toda certeza O Criador tem planos que nós desconhecemos. Não deve ser tão simples como lhe parece. Senão vejamos:
- O Planeta Terra, um mundo de expiações e provas foi criado exatamente para essas finalidades. Ou seja, colaborar na purgação daqueles que são mandados para cá temporariamente a cada encarnação. Essa temporariedade tem de ser relativamente curta senão a terra não comportaria tanta gente e poderia até explodir. É por isso que a proporção entre encarnados e desencarnados é a mesma. Quer dizer que para cada morte na terra existe um nascimento correspondente para substituir. Enquanto um escrevente de um Cartório registra um óbito de alguém que acaba de partir o outro escrevente registra o nascimento de alguém que acaba de chegar. De maneira que as povoações dos Orbes Terrestres quanto Celestes estão sempre se renovando. E é exatamente neste processo de renovação que o indivíduo, ou seja, a alma ou ainda se você preferir, o espírito evolui e progride. E esta é a lei da qual falava Kardec nos dizeres que estão em seu túmulo.
- Preciso desenhar para você entender? Ou fui clara o suficiente!
- Você tem razão, concordou Izildinha escondendo o rosto... precisa não.
Carece não... já entendi suas explicações.
Ufa!
E arrematou...
- As coisas de Deus são tão sábias, claras, cristalinas e precisas... Nós, seus filhinhos tontos é que insistimos em não vê-las, complicando-as ao invés de procurar compreende-las melhor.
- Seus filhinhos “tontos?”, retrucou Dalva, e finalizou...
- Eu, não, santa, você, cara pálida!
É...
Por vezes, ou quase sempre, entender as coisas do Criador é muito mais simples do que possa nos parecer.
* Enoque Alves Rodrigues é Espírita.