CONVERSA NO ALÉM XII– DIVAGAÇÕES DE ALOÍSIO
Conto Espírita
*Enoque Alves Rodrigues
Ele divagava em suas memórias de antanho no intuito de fugir de seu presente cheio de dificuldades aonde o espírito, prestes a desencarnar, passava pelas últimas provações neste Mundo de ilusões, expiações e provas denominado terra. Era a fatura indesejada por todos, mas implacável assim como tudo o que se relaciona ás coisas do “más allá”, que lhe batia à porta. Como toda e qualquer fatura tinha de ser paga. Os cobradores do além são infalíveis e não deixam por menos, ao contrário do que muitos pensam, Deus é Amor, Caridade e Perdão Benevolente, mas também é Justiça da qual ninguém consegue escapar.
Reminiscências fragmentadas por momentos positivos e alegres do passado agora povoavam aquela cabeça onde os cabelos coloridos por um branco meio azulado dos setenta e oito janeiros se multiplicavam na mesma velocidade que procurava retroceder no tempo e no espaço vivido em sua juventude na belíssima e promissora Cidade Mineira de João Monlevade.
Aloisio, era esse o nome da fera, estava agora prostrado sobre uma cama, fragilizado pela doença que aos poucos, mas que há muito tempo o consumia. Havia constituído ainda no inicio de sua jornada material da atual encarnação numerosa família. Eram oito filhos mais que ali, naquele momento, desde o inicio daquela moléstia não se encontrava nenhum a lhe prestar qualquer socorro ou ao menos algum cuidado e carinho. Ninguém, absolutamente lhe assistia neste plano físico. Em sono sentia a sensação de alguma presença que tão logo ele se despertava se dava conta de que havia sido uma simples ilusão ou um quase sonho.
Materialmente já ficou mais que comprovado que não há ainda tormento maior ao ser humano que o de se sentir só e desprezado quando mais se necessita e essas carências se tornam muito mais evidentes quando se passa por qualquer doença ou provação.
- Aloísio, você não pode nem deve ficar ai prostrado nesta cama esperando a morte chegar!
Era um irmão desencarnado que há muito tempo o observava.
- Nada mais tenho a fazer... As carnes parece soltarem-se dos meus ossos e eu não vejo saída mais digna dessa vida que não seja o túmulo...
- Bobagens, homem...
- Bobagens, por quê? Claro, você fala isso por não está em meu lugar. Eu queria ver se fosse o contrário. – o que você faria?
Diante de tão inesperada pergunta aquele espírito que estava ali somente para ajudar respondeu...
- Sinto-me na obrigação de lhe dizer. Tenha calma. Lhe responderei em seguida, mas antes gostaria de lhe fazer uma simples indagação...
- Pois, não...
- Você já morreu alguma vez?
- Que pergunta é essa. Não tem sentido algum...
- Você que pensa. Tem sim! Responda-me, por gentileza...
- Você já morreu alguma vez?
Para qualquer outro Cristão mediano, menos afeito ao mundo material e familiarizado com os ditames do mundo espiritual, Invisível aos olhos humanos, mas definitivo aonde habitam os espíritos de elevada cultura e discernimento e que assimilaram a muitos séculos ás coisas de Deus, nenhuma dificuldade teria em encontrar essa resposta. Mais o nosso irmão Aloisio estava com o espirito em frangalhos e já não se lembrava das boas práticas pelos caminhos estreitos que levam ao Paraíso...
- Nunca morri... Tampouco pretendo morrer... É por isso que eu estou “p” da vida com essa situação... Já não chega ter passado toda essa encarnação como pobre e humilhado por todos? Agora no fim da vida percebi, desgraçadamente, que até os filhos que criei e eduquei também me abandonaram. Sinto-me um lixo!
- Pois bém, amigo – Agora vou lhe responder, disse-lhe o espirito.
- Passei por várias encarnações aqui na Terra. Estive muitas vezes ai onde você está!
- E você não reclamou de nada?
- Não... Sou espírita desde minha primeira encarnação onde aprendi que devemos lutar para conseguir nossa evolução e burilamento rumo à Perfeição no Mundo Maior e que devemos passar pelas provas que nos surjam no caminho com paciência, confiança e resignação!
- Eu também sou espírita, respondeu Aloisio, e estou muito distante de agir e pensar assim como você...
- Não, amigo, finalizou o espírito, permita-me fazer aqui uma pequena mais substancial retificação do termo, mesmo sabendo que a mim não foi dado nenhum direito para julgar...
- Você não entendeu... Você não é Espírita... Você está espirita e isso é muito diferente, pois você só busca o espiritismo quando tem necessidade. De acordo com a sua conveniência.
Fraternal abraço.
*O Enoque Alves Rodrigues é espirita.