DISCIPLINA... DISCIPLINA... DISCIPLINA.

DISCIPLINA... DISCIPLINA... DISCIPLINA.

Conto Espírita

*Enoque Alves Rodrigues

                Contava o amado Chico Xavier que certa vez, ainda rapazinho, quando trabalhava na Fazenda Modelo, próximo a Pedro Leopoldo, sua cidade de nascimento, numa tarde quente de inverno, sentou-se à beira do lago que lá existe para descansar um pouco e meditar. Ele havia, recentemente, se convertido ao Espiritismo e quase nenhuma experiência tinha no tocante ao contato direto com os amigos do Mundo invisível. Quase analfabeto à época, tentava compensar o tempo perdido longe do Espiritismo com a leitura dos livros básicos da Doutrina. Lia naquele momento “O Evangelho Segundo o Espiritismo”.

                Estava o querido Chico, deveras, tão compenetrado na leitura que não tinha a menor noção do que ocorria ao seu redor. Desligou-se, sem que o soubesse, inteiramente do mundo físico. Foi assim que depois de longo tempo entretido com as letras sagradas da terceira revelação de Kardec, ao desviar, finalmente, os olhos do livro pode visualizar dois enormes pés “humanos” à sua frente. Assustado, vagarosamente, passou a seguir com as vistas olhando de baixo para cima no intuito de ver o rosto do dono daqueles dois pés. Retido pelo medo, mas tomado pela incontrolável curiosidade, o certo é que devido à lentidão, por mais que Chico estendesse suas vistas, não conseguia alcançar a face e feição do dono dos pés.

                Depois de haver repetido esse gesto por quatro vezes sem que tivesse coragem suficiente para consumar o seu intento de chegar até o rosto daquele individuo para vê-lo face-a-face, eis que Chico finalmente criou coragem e pôs-se de pé. Esperava com isso atingir o mesmo nível e altura do ilustre visitante para contemplar-lhe o semblante e, quiçá, trocarem com ele dois dedinhos de prosa como falamos nós, os mineiros. Não conseguiu nivelar-se. O Cara era muito grande e Chico Xavier conforme sabemos era de estatura muito baixa. O sujeito tinha quase dois metros de altura.

                Tratava-se do bondoso Espirito Emmanuel, um Senador Romano que desencarnou em Pompéia, Itália, durante o Vesúvio no ano de 79 de nossa era.

                Vinha ele com uma grande missão. Ao cruzarem os olhares, o iluminado Espirito que devido ao seu elevado grau de pureza e luminosidade ás vezes se apresentava dentro de uma cruz, foi logo dizendo:

                -Tenho lhe seguido durante a escuridão que se perde na imensidão dos tempos. Temos juntos, a grande tarefa que consiste em escrevermos vários livros com os quais faremos a divulgação da Doutrina Espirita aos quatro cantos do Mundo, que veio a lume por Kardec.

                -Você deseja mesmo ser um colaborador das obras do Cristo?

                -Mas escrever como, se sou um quase analfabeto?

                -Não se preocupe. Os livros virão naturalmente, respondeu-lhe o Benfeitor.

                Preocupado com o peso da responsabilidade que Emmanuel acabara de lhe comunicar e ainda não muito afeito ás prerrogativas inerentes ás ações que são implementadas pelos Espíritos Superiores, era natural aquele estado de apreensão momentânea pelo qual Chico estava passando. Desse jeito buscou uma vez mais lá no fundo do recôndito alguma força motriz com a qual conseguiu balbuciar mais algumas palavras de questionamentos. Ele fora pego de surpresa.

                -Do que mais eu vou necessitar para desenvolver bem e com êxito essa tarefa?

                O Espirito Benfeitor depois de fita-lo com ternura, pacientemente, disse-lhe lhe.

                -Mas você ainda não respondeu a minha indagação primeira. Necessário se faz que você a responda para depois entrarmos em detalhes. As cousas do Cristo tem que estar tudo em seu devido lugar. Não podemos cometer erros.

                -Outra vez lhe pergunto: você deseja mesmo ser um colaborador das obras do Cristo?

                -Sim. É tudo o que eu quero. Desde que o senhor me guie e me ampare sempre. Inclusive sou indouto, não sei nem me expressar e a minha intimidade com as letras beira a zero.

                -Está bem, disse-lhe Emmanuel: Isso não deve ser motivo de suas preocupações. Deixe isso por nossa conta. Para que você execute com esmero e inteligência as atividades que lhes serão designadas pelo Plano Superior do qual sou eu um humílimo servo e intermediário, você vai precisar apenas de três coisas. Nada, além disso.

                -Nessa hora o jovem Francisco Cândido se abalou. Via ali que não estava falando com um qualquer. Que aquele Espirito era realmente um dos grandes auxiliares diretos do Cristo, apesar de toda a humildade. Inquieto, foi logo perguntando:

                -Qual é a primeira?

                Respondeu-lhe de pronto o Espirito:

                -Disciplina!

                -E a segunda. Qual é?

                Voltou a responder-lhe, Emmanuel:

                -Disciplina!

                Perdão. Não entendi bem: qual é mesmo a segunda?

                -Disciplina! Repetiu-lhe o iluminado Espirito.

                Não está havendo ai algum engano? Meu nobre senhor!

                -Não. Não está!

                Pois não. Diga-me, então, por favor:

                -Qual é a terceira?

                -Disciplina! Alguma outra pergunta?

                -Não senhor. Já estou satisfeito. Farei a partir de hoje tudo que for necessário para poder trilhar com toda a fé, perseverança, destemor, paciência e compreensão, os caminhos que o senhor me indicar. Estou convicto que o senhor será o meu eterno guia apesar de eu não ter nenhuma qualidade que me qualifique a tanto. Mas se fui eu o escolhido para ajudar, eis me aqui.

                Meditação:

                Emmanuel colocou para Chico e para nós Espíritas, a disciplina como o mais importante e indispensável fator para trilharmos com retidão, os caminhos da Espiritualidade Maior aqui na terra, por que sem disciplina ninguém consegue chegar a lugar algum. Imaginemos, pois, quanta disciplina o nosso querido e amado irmão Chico teve de ter para poder não só escrever tantos livros, mas, principalmente, para conseguir enfrentar sem fraquejar, as grandes dificuldades, como ingratidão, estupidez, calunia e difamação como a que foi engendrada contra si no caso David Nasser, por exemplo? E você ai, que neste momento me lê a reclamar de tudo. Nada para você está bom. Mesmo observando que a sua volta existem pessoas em condições infinitamente piores que as suas. Cadê a sua sensibilidade? Por que você reclama tanto? Você já fez a sua parte? Ou você é daqueles que ficam esperando que tudo caia do Céu? Será que não está lhe faltando um pouco ou MUITA DISCIPLINA?

Pense nisso. Abra o seu coração e deixe de ser um renitente cabeça dura!

Fraternal abraço.

* Enoque Alves Rodrigues é espírita