Você é Espírita? – Parte I
*Enoque Alves Rodrigues
Ainda na fase da adolescência tive o privilégio de ser agraciado com a Luz da Terceira Revelação ao conhecer a Doutrina Espírita por intermédio do amado Chico Xavier, ainda em Uberaba.
Tempos difíceis àqueles quando, em busca de um emprego, por mais humilde que fosse o simples fato de o candidato à vaga apresentar-se como “espírita” ou seguidor de qualquer religião por mais conhecida e popular que fosse já era motivo mais que suficiente para se levar uma portada na cara seguida de um sonoro não. A vaga até então existente, num passe de mágica, desaparecia. “já tinha sido preenchida.”. Pobre recrutador e suas desculpas esfarrapadas! Fazer o que? O Mundo era assim. Muitos irmãos, premidos pela necessidade da busca desesperada pelo sagrado pão de cada dia eram obrigados a negar o seu credo. Questionado no quesito “religião”, como se isso contasse pontos na avaliação de capacidade, desempenho e resultados do futuro colaborador, este respondia, com dor no peito, alto e bom som: “Não tenho Religião.”. Dessa forma estava do lado da maioria que assim se definia e, via de regra, a vaga era sua. A verdade nua e crua é que, mesmo de forma dissimulada, mas desavergonhada, as discriminações em todos os seus níveis prevaleciam nessa Terra de Santa Cruz. Ainda hoje existem, só que mais sutil e discretamente. Queiramos ou não, elas estão por ai em nossas fuças. Raças, etnias, credos, social, econômico, etc., acreditem, ainda são fatores decisivos em muitas avaliações distorcidas e evidentemente que desprovidas do menor respeito e amor ao próximo e zero conhecimento de Deus. É só querer ver.
“Muitas dificuldades surgirão em seu caminho daqui por diante”, disse-me o amado amigo Chico quando fui me despedir dele lá em Uberaba para vir para a Cidade de São Paulo. Lembram-se? Pois é! Realmente, como é de conhecimento dos que acompanham minha modesta trajetória tais dificuldades se concretizaram em algumas etapas desta minha caminhada pelas quais agradeço. No entanto, ao abraçar a Doutrina Espírita eu tinha a plena convicção de que, perguntado, jamais a negaria. Sou assim. Para mim não existe meio ser ou meio estar. 100% ou nada. É calça de veludo ou bunda de fora como falamos lá em Minas. Com saudável orgulho assumiria a Doutrina como o marco maior em toda a minha existência independente de qualquer consequência material. Que se necessário fosse, abriria mão de eventuais oportunidades temporais que surgissem em benefício daquilo em que acredito. Mas, volto a dizer. Não foi fácil. O homem de Uberaba que se autodenominava “um cisco” tinha toda razão.
1974. Barriga verde em São onde ao chegar consegui ainda dentro do ônibus uma colocação, estava eu agora ansioso para trocar de emprego. Estudava e almejava uma melhor colocação com salário compatível à minha necessidade de seguir bancando os estudos. Trabalhávamos em uma grande construção de vários edifícios no portal do Morumbi. Várias empresas de engenharia tocavam aquele empreendimento.
Certa manhã, após bater o meu cartão de ponto, ao me dirigir para frente de trabalho fui alcançado pelo mestre de obras, senhor Alberto, que assim me falava.
- Menino, gostamos muito do seu trabalho e vemos o seu esforço no sentido de dar sempre o seu melhor. Por isto te informo que uma das empresas concorrentes está necessitando de um apontador de produção cujo salário é o dobro do que você ganha como servente. Tenho lá um amigo. Com toda certeza você tem todas as qualificações para ocupar essa função. Vou marcar uma entrevista para você. Se você acertar com eles, libero tudo que você tem direito em sua rescisão. Disse isto e passou-me ás mãos um papelzinho com o endereço do Escritório da Empresa que se localizava na Avenida Faria Lima e o nome do amigo dele.
Entusiasmado, trabalhei normalmente, enquanto aguardava o agendamento da data da entrevista. Três dias depois eu era chamado. O processo seletivo naquela empresa compunha-se de quatro etapas:
- Preenchimento da ficha de solicitação de emprego;
- Testes de conhecimentos práticos e teóricos inerentes à atividade,
- Entrevista admissional com psicólogos e depois com o selecionador e,
- Exames médico admissional.
Cumpridas essas quatro etapas era só “correr para o abraço.”.
Lá chegando, ainda na portaria, entregaram-me a ficha de solicitação de emprego para preencher.
Agora eu estava na primeira etapa daquele minucioso processo seletivo. Preenchimento dos dados pessoais para devolver a ficha ao Setor de Recursos Humanos para a avaliação que me credenciaria as etapas seguintes.
Continuaremos na próxima semana.
Fraternal abraço.
* Enoque Alves Rodrigues é espírita