A Reencarnação e Missão de um Espírito II
*Enoque Alves Rodrigues
Feliz e robusto crescia Cláudio em meio ás plantações de milho, feijão, algodão e alho culturas naturais daquele abençoado pedaço de chão localizado ao Norte das Gerais. Seus pais, Alfredo e Rosa, roceiros, que arrendavam aquele pequeno sitio, se desdobravam para que nada faltasse aos seis filhos, principalmente a Cláudio, por ser o caçula, com corpo e mente ainda em formação. Eles se esmeravam para que Cláudio pudesse ter o melhor possível ás suas necessidades e o esforço e desprendimento dos pais de Cláudio se tornaram mais evidentes quando, ao contrário de seus irmãozinhos menores, o matricularam na Escolinha Rural onde teve o seu primeiro contato com as letras do bê-á-bá e com os números da tabuada, privilégio apenas seu, pois em toda a sua família ninguém sabia ler ou escrever, tampouco qualquer operação aritmética. Viviam, única e exclusivamente para a lavoura de onde arrancavam o sustento.
Ao retornar da Escola, Cláudio, agora com oito anos, depois de fazer o “dever de casa” da Escola, mergulhava, de acordo com suas condições físicas de menino, nas tarefas que o pai Alfredo lhe designava e que consistiam em trabalhos leves e simples como apascentar o gado e quando sobrava algum tempo, munido de uma “meia” enxada, carpia alguns eitos de roça livrando vários pés de feijão das ervas daninhas que ao contrário da cultura útil, cresciam viçosas e verdejantes.
Quando Cláudio atingiu a idade de doze anos, seus pais, católicos fervorosos, responsáveis e cônscios de seus deveres que se martirizavam por não terem conseguido oferecer aos demais irmãos de Cláudio oportunidades de algum estudo, começaram a se preocupar. Não viam para o filho, naquele lugarejo, um futuro promissor. Eles não queriam que Cláudio fosse como eles, ou seja, desprovidos culturalmente. Almejavam para aquele filho tudo de bom que a vida possa oferecer aos que melhor se preparam para disputar em condições de igualdade cada oportunidade ainda que se tenha de matar um leão por dia. Preparariam o filho para esse combate aconteça o que acontecesse.
Bem, redundante seria seguir dizendo que ali naqueles confins não tinha recurso que permitisse sequer humilde base cultural para Cláudio que havia concluído o curso primário na Escolinha Rural naquele final de ano. O ensino ali só ia até o curso primário. Assim sendo, sem titubearem, Alfredo e Rosa decidiram que o filho Cláudio seguiria os seus estudos na cidade mais próxima que distava cento e vinte quilômetros. Seguramente que lá encontraria os melhores colégios e universidades onde Cláudio poderia levar os seus estudos até o final.
- “Ocê vai sê arguém na vida, Cráudio e ainda vai dá muintcho orgúio prá nóis, se Deus quizé!”, dizia Alfredo, pai de Cláudio, em seu dialeto caipira do meu lugar.
- “Deus vai querer sim, meu pai... Eu prometo me esforçar o máximo para dar ao senhor e a mainha esse orgulho. Podem acreditar que eu jamais os decepcionarei...”.
- “Sabemo disso, meu fio. Por isso Sá mãe e ieu num vai poupá esfôuço para vê ocê hôme formado. A nossa meta é fazê docê dotôr!”.
Dois dias depois desta conversa, Alfredo, Rosa e Cláudio andavam pelas ruas da Cidade de Montes Claros a procura de uma pensão onde pudessem hospeda-lo durante todo o tempo que durassem seus estudos, assim como de uma Escola de primeiro e segundo graus, e, pasmem, numa visão longa e futurista permitida apenas àqueles que pensam e agem em sintonia plena com as coisas espirituais, de uma boa Faculdade onde o filhão teria de sair muitos anos depois com o seu canudo de doutor debaixo do braço.
Devo ressaltar que nesta época a qual me reporto ali por aquelas plagas de meu Deus tudo era infinitamente mais difícil do que é hoje. Não tinha Escola para todos. A escola pública a qual o pobre tinha acesso praticamente só lecionava até o primário. Á partir dali o ensino era pago. Só existia o “Pro-Nada” já que os Pro-Unis sequer se imaginavam, pois é muito recente. Pobre não tinha vez. Somente filhos de pessoas muito ricas chegavam à Faculdade onde pobre sequer passava em frente. Fazer o que? O Mundo era assim e assim seria por muitíssimo tempo.
Felizes, finalmente, depois de uma semana de procura, eles encontraram a Pensão e o Grupo Ginasial onde nosso amiguinho Cláudio se estabeleceria para dar inicio a mais essa etapa em sua vida. Retornaram ao Sitio e agora tinham outra preocupação: vender algumas cabeças de gado do reduzidíssimo rebanho composto por vinte reses a fim de bancarem o começo de uma nova vida para o filho. Mais um problema: naqueles tempos, em determinadas regiões do Brasil dinheiro em circulação era coisa rara. Era comum, apesar de poucos hoje acreditarem, a prática do escambo. Ou seja, a troca de produtos. Se eu tivesse farinha e desejasse rapadura, tinha de fazer duas rezas: a primeira para que o meu vizinho não tivesse farinha e a segunda para que ele tivesse rapadura. Com isso o poder de barganha de ambos estaria em igualdade, alimentando com isso a lei da oferta e da procura meio que ás avessas. Você entendeu?
Só que ocorreu o seguinte e espero que você não tenha se distanciado da primeira parte dessa crônica espírita, se é que você deseja mesmo entendê-la, fielmente.
Para que o espírito Cláudio levasse adiante a sua missão ele dependia que seus pais antes, cumprissem com as suas próprias missões que era de dota-lo de embasamentos elementares e indispensáveis. Por isso, não foi difícil aos pais de Cláudio vender aquelas vaquinhas. Os Amigos Espirituais que a Cláudio assistiam “deram uma mãozinha” pelo menos naquele primeiro momento.
No próximo episódio vamos encontrar Cláudio, personagem principal dessa crônica já em Montes Claros.
Aguardem!
* Enoque Alves Rodriguesé espírita