Você Entende Tudo que Lê?
*Enoque Alves Rodrigues
Desde que esteve em Uberaba em casa do Médium Chico Xavier, Mirtes nunca mais voltou a ser a mesma.
Havia trocado com o amado amigo algumas palavras. Algo relacionado à Espiritualidade Maior havia deixando-a daquele jeito. Ele, docemente, sempre que podia, não deixava nada sem resposta e quando não as tinha de pronto procurava busca-la na fonte onde nunca voltava de mãos abanando.
Mirtes acabara de ler o livro ditado pelo espirito André Luiz que foi escrito pela psicografia de Chico Xavier, que, como todos sabem se encontra cheio de belas paisagens retratadas pelo autor espiritual a respeito da cidade onde habitam os espíritos que se denomina “Nosso Lar”. Ela alimentava muitas curiosidades que, com a infantilidade de uma criança, queria a todo custo saciar. Da criança ela não possuía somente a curiosidade, mas, também, a espontaneidade. Foi por isso que naquela visita quis aproveitar o máximo para arrancar algumas afirmações do Médium sobre como são as “coisas lá em cima”.
Chegada a sua vez adentrou a sala onde Chico atendia a todos. O mesmo se achava em posição de vigília. Ali ele se encontrava em comunhão constante e permanente com o mundo dos espíritos. As comunicações eram diretas. Mirtes não titubeou. De chofre perguntou ao Chico.
- O senhor pode me dar algumas informações de como são as coisas lá em “Nosso Lar?”.
- Pois não, minha irmã! O que desejas saber?
- Se é exatamente como André Luiz diz ser! Por exemplo, lá também tem ônibus para as pessoas andarem?
- Sim. Tem! É exatamente como reporta o espirito. A senhora pelo que vejo já leu “Nosso Lar!”.
- Sim. Li... Mas pouco ou quase nada entendi!
- O que foi que a irmã não entendeu? Onde, em que passagem se encontra a vossa dúvida?
- Na parte onde os espíritos diziam a André Luiz que ele havia se suicidado aqui na terra quando na verdade ele morreu de doença incurável causada pelo fumo!
- Ah, sim, respondeu-lhe Chico. No entendimento do mundo invisível isso não deixa de ser um suicídio. Mas o importante foi que ali ninguém o lembrou desse episódio para lhe incriminar, mas simplesmente para ajuda-lo. A senhora viu como Clarêncio o recebeu?
- Não... Não vi!
- Uai, a senhora tem certeza que leu “Nosso Lar?”.
- Sim... Tenho!
- Ah, bom!
- Presumo que a irmã tenha pulado alguns trechos. Dai a dificuldade do entendimento do livro e suas mensagens como um todo!
- Sabe o que é “seu Chico!”.
- Não... Não sei!
- Ler o livro eu li, mas muitas coisas eu não entendi. O senhor poderia resumir para mim? Afinal, André Luiz conseguiu encontrar com sua mãe. O que aconteceu com o homem que desposou a esposa dele depois do desencarne? Ele tinha mesmo que passar pelo Umbral? Quem eram aquelas figuras assustadoras de que ele tanto fala? Todo aquele tempo lá em cima e “não conseguiu ver Jesus?”... Por que é tão difícil para não dizer impossível entendermos as coisas do além?
Com a paciência que Deus lhe deu e com o falar manso e suave que o destacou durante toda a sua existência terrena Chico procurou ser o mais claro e objetivo possível, tendo antes o cuidado de escolher bem as palavras, prosseguiu.
- Pois é minha irmã, as coisas espirituais são claras, precisas e transparentes, mas para entendê-las temos que estudar com muita dedicação e paciência. Pois, na verdade, tudo que sabemos ainda não representa nem um pequenino grão de areia no Oceano. E saber o quanto é frágil á linha divisória que nos separa de todo este conhecimento!
- Linha divisória? Que linha é esta, “seu” Chico?
- A morte, irmã!
- Então para se travar contato com este mundo do qual o senhor tanto fala tem que morrer?
- Em muitos casos sim... Aliás, nem todos que morrem conseguem uma boa afinidade com o mundo invisível.
- Espere um pouco... Corro, então, o risco de mesmo morrendo não conseguir usufruir das maravilhas relatadas por André Luiz?
- Sim. Todos nós corremos esse risco!
- Ah, não! Deixemos como está. Não pretendo morrer nunca. Vou cuidar da minha vida. Nem sei o que foi que eu vim fazer aqui! – Retrucou Mirtes, num misto de desolação.
Viram ai?
Quase todo mundo tem curiosidade em saber como são as coisas no outro plano. Desejam alcança-las de todas as formas desde que não tenham que morrer.
Fraternal abraço.
* Enoque Alves Rodrigues é Espírita.