LINHAS CRUZADAS I - MORRER COM EDUCAÇÃO
Verídico
*Enoque Alves Rodrigues
Chico Xavier sempre recordava de um fato ocorrido com ele no ano de 1959 em viagem de avião á Uberaba onde depois de entrar em desespero diante da morte iminente pôs-se a gritar junto com os outros passageiros, ao ponto de ser advertido enfaticamente pelo espírito Emmanuel, seu guia e mentor, que ao adentrar ao recinto, disse-lhe: “Se você acha que é chegada sua hora e que vai morrer neste momento pelo menos procure morrer com educação e dignidade, de preferência sem disseminar o pânico aos demais!”.
Chico ás vezes se referia, em tom de brincadeira, a esse “morrer com educação”, como o fez no programa “Pinga-Fogo” da TV Tupy em 1971, que jamais entendeu esta recomendação do venerando espirito Emmanuel e que achava difícil alguém se preocupar em ser educado na hora derradeira. Claro que ele sabia, e muito, haja vista a maneira educada, tranquila e discreta com a qual nos deixou, sem quaisquer sustos ou sobressaltos. Desencarnou com a mesma finura, humildade, classe, categoria e desapego a matéria da mesma forma que reencarnou e viveu entre nós que aqui ainda estamos.
Ouviam-se nas filas que se formavam em torno da “Casa da Prece” em Uberaba, nos idos de 1972, 1973, período este em que eu ia não com a assiduidade que gostaria aquela casa de bênçãos, muitos espiritas ou simpatizantes comentando sobre mencionada passagem. Não entendiam que aquela alusão do amado Médium ao “como seria morrer com educação?”, não passava de mera licenciosidade poética fruto da afinidade e liberdade que tinha com o seu Mentor que lhe permitiam de quando em vez deixar aflorar a veia cômica do Francisco sem prejudicar o “cisco” do “burrinho carregador de livros” na seriedade da missão que ambos abraçaram de produzirem obras que difundissem a todos os cantos do mundo a boa nova da terceira revelação de Kardec.
No fim daquela fila estava Dona Martinha que era comadre de dona Veridiana sobre quem já produzi alguns relatos de seu primeiro encontro com Chico em outras “Linhas Cruzadas”, desta mesma série. Estávamos todos ali de posse de nossas senhas que eram distribuídas por ordem de chegada, no aguardo do atendimento e conforto espiritual. Fila é fila em qualquer lugar. Não importa que seja a fila onde todos deveriam se encontrar compenetrados ou em preces para arrefecer a dureza da alma ou se a fila do Teatro, cinema, hospital ou cemitério. Tudo é fila: para alguma parte da humanidade nenhuma diferença faz. Aliás, é bom mesmo que seja assim. Você já imaginou dar de cara com um cortejo qualquer com todo o mundo aos prantos e berros? E na porta do Teatro ou do cinema com todas as pessoas em êxtase de alegria ás gargalhadas na euforia de uma apresentação estupenda? Ou então, com a fila de uma Casa Espírita aonde as pessoas aguardam a hora de serem atendidas enquanto, exaltadas, rezam ou fazem os seus pedidos aos gritos?
Pois é. Certamente que não seriam sensações das mais agradáveis de ver, ou melhor, de se ouvir.
Para tudo isso é preciso e indispensável que tenhamos educação, equilíbrio e comedimento a fim de não fazermos feio algo que tinha tudo para ser bonito ou quiçá, menos feio ou ruim. É o “morrer com educação” de Emmanuel.
- Veridiana, você não vai rezar?
- já estou rezando!
- Mais como... Se eu não te escuto?
- Estou rezando para Deus, não para você!
- Se você não falar alto, Deus assim como os espíritos e “seu Chico” não vão te escutar!
- Escutam, sim. Já tive todas as provas disso quando aqui vim na primeira vez.
Naquele dia, Dona Martinha saiu do atendimento com um pedacinho de papel ás mãos que ela leu na frente do Médium que lhe ensejaram duas perguntinhas com as quais finalizo essa verídica crônica. Lia-se naquela mensagem:
“Deus conhece todas as suas vontades e lê-lhe os pensamentos sem que você necessite proferir palavra alguma.” “Seu filho Gilmar Francisco Gotardo que desencarnou á quatro anos, na idade de vinte janeiros, moendo cana, picado por uma cobra coral, pede para a senhora “preces silentes” e que não chore “nem alto nem baixo”. O pranto na dimensão aonde ele ainda se encontra lhe chega aos ouvidos como a um estampido de tiro e as dores no local da picada tornam-se insuportáveis e isto não está lhe fazendo nenhum bem”.
- Uai, sô!
- Picada de Cobra? -Perguntou dona Mariquinha ao Chico-. Ele não morreu de um ataque cardíaco naquele canavial?
- Sim. E completou.
- Ataque cardíaco causado por picada de cobra. O irmão tentou atendimento, mas não conseguiu chegar a tempo de conter a circulação do veneno nas artérias e evitar a contração muscular.
Detalhe: dona Martinha e Chico jamais antes haviam se visto.
Meu Deus!
Fraternal abraço
*Enoque Alves Rodrigues é Espírita.