CONVERSA NO ALÉM XXVI – SIGA EM FRENTE

CONVERSA NO ALÉM XXVI – SIGA EM FRENTE
Conto Espírita
*Enoque Alves Rodrigues
O sol ali tinha um brilho diferente. O verde, ao contrário do que ela até então tinha visto, era um verde azulado. A água era de um cristalino que cintilava como estrelas. Bem, falando em estrelas ela observava que naquela posição onde se achava parecia que o Firmamento tinha se deslocado por milhões de anos luz em direção á Terra por que as estrelas ali se apresentavam grandiosas, ao contrário dos pequeninos e quase invisíveis pontinhos que ela outrora admirava desde a face do Planeta Terra. Pássaros igualmente enormes de plumagens de um colorido nunca visto com suas asas de grandes envergaduras plainavam no ar e de quando em vez davam rasantes que chispavam seus lindos, longos e loiros cabelos. Ela estava vivendo um verdadeiro êxtase. Todos e quaisquer pensamentos inerentes ás preocupações materiais de há muito se esvaíram de sua cabeça.
Sentada sobre uma pedra colocada ali pela mãe natureza estrategicamente sobre aquele riacho como se a convidar os viajores do tempo e do espaço a ali pousar a fim de descansar das grandes labutas e recarregar as baterias para seguir adiante na imensidão sem fim, Thalita se encantava e a cada instante era surpreendida pelo dinamismo das renovações fenomenais.
Após absorver todas aquelas maravilhas que se estendiam até onde os seus olhinhos azuis alcançavam, pôs-se, de repente a pensar. Por mais que se aprofundasse em seu recôndito não conseguiu ter a mais remota ideia do que havia lhe ocorrido. Somente de uma coisa ela tinha certeza: aquelas belezas não faziam parte do cenário terrestre. Ela era pessoa de posses altas que teve oportunidades de conhecer várias partes do mundo e jamais se confrontara com aquelas preciosidades. Por muitos sextos de hora permaneceu naquele diapasão. Quando sua curiosidade em saber que lugar era aquele se arrefecia, o seu “eu” curioso a impulsionava a seguir adiante na busca do indescritível. O silêncio daquele lugar dava-lhe a entender que lá só existia ela e a sua consciência tranquila. Nada mais. Será?
- A senhora já conseguiu realizar a tarefa que lhe confiamos?
Agora assustada e com os olhos esbugalhados deu uma volta de 360º em torno de si buscando avidamente de onde saia àquela voz. Nada visualizou. Sendo assim, voltou à sua calmaria original.
- A senhora não vai prosseguir? Estás ainda muito perto de seu ponto de partida enquanto que para o seu ponto de destino e pouso faltam muitíssimas léguas. Se a senhora não executar as suas atribuições em cada paragem curta não vai conseguir chegar nunca ao destino... Aqui não se permite pular etapas.
Parou. Olhou. Observou e uma vez mais não viu ninguém.
- Talitha... Oh, Talitha, por que permaneces silente? Você não está me ouvindo? Á quanto tempo você está ai parada? Por quanto tempo mais teremos que te esperar? As coisas já não são mais como antes, Talitha... Acorda. Vamos seguir viagem!
E por que Talitha não via ninguém passou a dialogar com aquela voz invisível.
- Quem é que está falando? Que tarefas são essas que eu deveria desenvolver? O que é que você quer comigo? Por quais razões me mandas acordar? Á quanto tempo estás me observando?
- Vamos por partes, minha filha, por que temos pouco tempo a perder...
- Sou Thomé, seu tio avô desencarnado há cinquenta anos e fui designado pelo Plano Superior para cuidar de você durante essa travessia. As tarefas as quais me refiro e que são de suas atribuições consistem, unicamente, em que você se firme no pensamento de que estás morta para as coisas materiais. Pense firme em Jesus para seguirmos em frente. Isso ai que você está vendo em êxtase profundo não significa nem um milésimo do que ainda verá. Isto ai – falou o desencarnado apontando para o riacho -, é apenas um pequeno obstáculo para lhe prender aqui. E o pior, querida sobrinha: são muitos, para não lhe dizer quase todos os que se deixam levar por estas belezas tênues e temporais, se esquecendo de que as maiores belezas que são aquelas firmes como rochas, definitivas e imutáveis, estão muito mais além, cujo caminho para se chegar até elas é longo, torto e penoso, sustentadas que estão nas mãos Poderosas e Sacrossantas do Divino Mestre do Madeiro. Lá, ao contrário daqui, você jamais terá motivos para volver seus pensamentos ao mundo que acabas de deixar.
Assustada, Talitha deu um pulo e incontinente, inquiriu:
- Como assim, “o mundo que eu acabo de deixar... Eu morri?”.
- Preciso lhe responder? – Disse-lhe a voz.
- Não. Obrigada, já entendi!
- E então. Você vai ou fica?
- Posso consultar “os universitários?”.
- Pode... Seu juízo é seu mestre. No seu livre arbítrio, manda você!
Até hoje Talitha se encontra paradona naquele tenebroso lugar que a princípio o paraíso lhe parecia.
 
Fraternal abraço.
* Enoque Alves Rodrigues é espírita.