LINHAS CRUZADAS VIII - É PRECISO VER PARA CRER?

LINHAS CRUZADAS VIII - É PRECISO VER PARA CRER?

Verídico

*Enoque Alves Rodrigues

A incredulidade campeia neste planeta de expiações e provas. Quantas vezes ouvimos alguém afirmar alto e bom som: “Sou igual a São Tomé. Só acredito vendo!”. Tal referência é atribuída a Tomé, um dos doze apóstolos de Cristo que segundo a Bíblia só se deixou convencer de que o Divino Mestre havia realmente ressuscitado após tocar Lhe com o dedo ás chagas deixadas pelos cravos de seus executores.

Em que pese o respeito que nos merecem os irmãos que assim agem, devemos entender que eles, antes de tudo, necessitam de nossa piedade e compaixão, por terem, ainda, impregnados no caráter, dúvidas e incertezas, que os levam à involução, já que ninguém consegue ver tudo previamente para depois acreditar e formar o seu juízo a respeito da existência de alguma coisa. Aliás, é bom ressaltar que aproximadamente 95% de tudo o que existe no mundo, ao nosso redor, debaixo das nossas fuças, está inteiramente fora do alcance dos nossos olhos materiais. O nosso campo de visão é muito limitado e nós não podemos nos restringir a ele por que senão só veríamos 5% das coisas de Deus e, sendo assim, nos igualaríamos à ameba. É muito pouco para alguém que reencarnou na terra exatamente com a missão que consiste em caminhar e evoluir. Aprender e ensinar. Você não acha?

É fato. Isto eu posso lhes afirmar: Em espiritismo se alguém deseja mesmo “ver alguma coisa” terá que antes de tudo, acreditar. Contrariamente ao que se propagam por ai, a máxima que utilizo em espiritismo é “crer para ver”. Entendo que somos pequeninos demais para exigirmos de Deus alguma prova. Sim, por que quando condicionamos a nossa fé a alguma coisa ou fato que ainda não vimos para passarmos a acreditar, estamos na verdade á espera de alguma confirmação sobre a qual possamos fundamentar a nossa convicção. Aludindo-me, ainda aos Evangelhos recordo de uma passagem onde diz que a maior prova da fé é exatamente aquela onde se acredita no que não se vê. O existir das coisas independe da nossa fé, ou seja, nada deixará de existir apenas por que nós não acreditamos. Más, se desejamos mesmo ver ou sentir, não há outra maneira senão acreditarmos.

  É possível que resida ai a decepção e muitas baixas de antigos companheiros de nossa seara Espírita que talvez não tenham tido a paciência suficiente para levar adiante a sua fé para que depois pudessem dar de cara com o que buscavam. Quantas vezes ouvi de alguém em um Centro Espírita dizer: “estou desesperado por obter noticias de meu parente que acaba de falecer”, ou, então, “estou aqui neste Centro á tanto tempo e jamais consegui ver um espírito!”.

No pouco tempo que tive de convívio com o baluarte do Espiritismo Brasileiro Francisco Cândido Xavier incontáveis foram ás vezes em que eu ouvi na fila junto às demais pessoas, alguém gritando: “E ai, Chico, por quanto tempo mais eu terei que esperar pela mensagem da minha mãe?”. Outros mais afoitos: “Chico, cadê o meu papel?”. “Não consigo mais vir aqui em busca de uma resposta inutilmente!”. “O que terá acontecido com o meu menino que desencarnou há dez anos e não se manifesta?”. Para todos estes questionamentos e frustrações de almas açodadas à beira do desespero o amado amigo tinha uma palavra de consolo que nem sempre vinha acompanhada de uma comunicação direta do espírito solicitado através da psicografia, por que como ele mesmo dizia “o telefone só toca de cima para baixo e nunca de baixo para cima.”. Quer dizer que a permissão para que o espírito se comunique vem de Deus e nunca da vontade terrena imediatista, na maioria das vezes, em total desacordo e sintonia com as vontades do Criador. E ai nós que nos achamos grandes em nossa insignificância qual crianças malcriadas nos frustramos diante de Deus desistindo do Seu Caminho.

Queremos, sem esforço algum, que Deus a todo custo nos atenda.

Em todas as etapas da existência humana, quer física ou espiritual, o indivíduo se realiza á maneira que vai avançando em seu caminhar. Cada dia de nossas vidas é um degrau ou um desafio a ser superado.  Assim como cada passo do nosso passado, como dizia Sêneca, pertence à morte, todo passo que damos ou cada degrau ou desafio vencido nos conduzem cada vez mais para junto de Deus. Para a consolidação dos nossos objetivos materiais e espirituais. Significa dizer que se não acreditarmos sem ver, motivação alguma teremos para sairmos do lugar ou para dar o passo seguinte na árdua jornada que Deus, Justo e Bom, nos preparou. Carranca negativa ou reclamações fúteis só vão nos reter cada vez mais às provações das quais, a todo custo, queremos nos livrar. É isto o que você deseja?

Fazer a nossa parte na caminhada evolutiva não é difícil. Basta querermos. Cultivar a simplicidade como nos recomenda o Espírito André Luiz, é um bom começo. Não dar o passo maior que a perna. Aceitar a cada um do jeito que é. Não exigir do outro a perfeição que ainda não temos. Não perder tempo com subjetividades. Comprar apenas aquilo de que necessitamos. Desapego ás transitoriedades, e, o mais importante... Ah, você pensou que eu havia me esquecido, né! “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos”. É este o maior mandamento que o Governador Supremo deste Planeta nos deixou.

Entretanto, amiguinhos, até mesmo para nos comportarmos dessa forma ou, para sonharmos com um mundo melhor para todos nós, é preciso termos fé e acreditar no invisível no sentido de que, renovando a cada dia as nossas convicções, possamos ver e decifrar aquilo que os incrédulos jamais verão.

Você ainda quer ver para crer? Eu não, obrigado.

Pensem nisso e sejam felizes.

*Enoque Alves Rodrigues é Espírita.

Nota: Estarei entrando em férias na empresa a partir de segunda, 26/09/16. Não estarei em férias das atividades Espirituais. Durante esse período procurarei, dentro do possível, postar diariamente, contos espíritas em linguagem simples e divertida denominados “Conversa no Além”. Seguirei também com a série de dez capítulos “Linhas Cruzadas”, e com a recepção dos textos originais do próximo livro que escreverei sob a orientação do Espírito Denise, além de manter o périplo de visitas aos Centros e Federações Kardecistas.

Abraço,

Enoque.