Orgulho ou Amor Próprio. Qual a Diferença?
*Enoque Alves Rodrigues
No intervalo de uma palestra motivacional que ministrava para jovens aprendizes perguntaram-me se existem diferenças entre o orgulho e o amor próprio e em caso positivo que eu as definisse. É natural aos que dispõem de alguns fios de cabelo branco assim como eu, ser de quando em vez brindado por perguntas para as quais na maioria das vezes não fomos ou não estamos devidamente preparados para respondê-las. Os jovens veem em nós a explicação para muitas dúvidas que povoam-lhes à mente. E, quando isso passa a lhes martelar a cabeça, mesmo que o assunto esteja fora de contexto, “não seguram mesmo” e amiúde, de chofre, “sem dó e piedade” ou sem qualquer prévio aviso “fulminam-nos.” É por isso que eu gosto dos jovens. Eles têm ainda suas curiosidades insaciáveis que são o que nos cativam.
Responder o que numa pergunta como esta? Como ser natural e convincente em minhas respostas? Sim, por que como todos deveriam saber, para os jovens resposta pronta não vale. Portanto, meu nego, retiro quase tudo que falei acima, pois de nada adiantaria eu ter recebido a pergunta com antecedência e me preparado adequadamente para respondê-la. Em algum momento isso ia soar falso e na tabuada de nossos bons jovens 99,99 não são 100. Mais eu tinha de sair dessa e se possível com algum louvor já que o meu ego ainda em formação depende disso. Mal espírita, eu? Creio que não. Apenas reconheço minhas fraquezas e não tenho vergonha de admitir que mesmo tendo às costas sessenta e um janeiros, minhas parcas e insignificantes virtudes sequer se aproximam do tamanho de um grãozinho de mostarda enquanto que os defeitos, e lá vem o “mardito” ego de novo, estão na estratosfera. Fazer o que? Muitos evoluem com mais rapidez enquanto outros nem tanto.
Sendo assim, procurei na medida do possível responder ao meu amiguinho. Comecei exatamente ressaltando minhas imperfeições recomendando-lhe não levar ao pé da letra o que na sequência eu lhe diria, mas que procurasse elucidar melhor os resquícios de dúvidas que por certo ainda persistiriam, com pessoas melhor qualificadas. Que ninguém consegue ter resposta para tudo mesmo que se viva cem anos, etc.
A diferença, meu Caro, que separa o amor próprio do orgulho é a mesma que existe entre o remédio e o veneno: é a dosagem. São os excessos. Se você deseja realmente se curar use a dose certa prescrita na bula. Mas se o que você quer mesmo é se matar, exceda-a e tudo estará resolvido. É isso mesmo. Na vida tudo gira em torno do equilíbrio. O amor próprio é bom e devemos amar-nos a nós mesmos até porque fomos feitos a imagem e semelhança de Deus. O amor próprio é mais que saudável e indispensável. Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo eis o grande mandamento do Mestre. Viu ai? Jesus nos legou o amor próprio até por que é através dele que vamos amar ao próximo como a nós mesmos. Quanto mais você se ama mais você vai amar o próximo. Simples, não? Nem tanto! O problema está quando nos amamos excessivamente. Isso ocorre quando nos endeusamos, ou melhor, quando queremos nos sentir o cara. Miramo-nos no espelho e no cruel afã de nos sentirmos maiores que os outros queremos ver nele refletida apenas e tão somente a nossa imagem na maioria das vezes ofuscada pelo nosso egoísmo. Desejamos ferozmente que o nosso próximo seja igual a nós somente por que nós somos assim e assim ele tem de ser. Ele que se adeque a nós e nunca nós a ele. Somos modelo para tudo e o próximo que nos copie. Isso é amor? Negativo: isso é orgulho. Percebeu o quão curta é a distância que separa o amor próprio do orgulho?
Amor e Ego não conseguem coexistir pacificamente. Eles estão em guerra permanente entre si e como em toda e qualquer guerra, no final tem de haver um vencedor. Em se tratando de batalha não há a zona de conforto da neutralidade: ou perde ou ganha. Ou vence ou é vencido.
Você perde a guerra, ou melhor, é vencido, quando você opta por saciar o ego com os excessos e permissividades creditados erroneamente ao seu “amor próprio” sobre os quais falei no parágrafo anterior. De igual forma você ganha à guerra quando decide manter sempre o equilíbrio que é quando você tem a exata definição dos limites que o permitam viver o amor próprio em toda a sua plenitude sem o risco de excedê-lo o qual por sua vez nada mais é senão a anulação do próprio eu.
E para finalizar deixo ao amiguinho do intervalo da palestra uma regrinha simples e básica na qual em minha pequenez procuro quando possível me direcionar ou lastrear.
- Amor Próprio = Equilíbrio: Amar tudo. Querer tudo. Ser tudo... Para você, mas, principalmente, para o seu semelhante.
- Orgulho = Desequilíbrio ou excesso: Amar tudo. Querer tudo. Ser tudo... Somente para você.
Preciso dizer mais alguma coisa? Você entendeu?
Ora, pois, pois!
Fraternal abraço.
* Enoque Alves Rodrigues,é espírita