ETELVINA E CHICO XAVIER

Linhas Cruzadas – Etelvina e Chico

*Enoque Alves Rodrigues

Aflita e inconsolável com a perda do filho, recentemente desencarnado de maneira trágica, Etelvina visitava o querido Chico Xavier no Grupo Espírita da Prece, no Parque das Américas, em Uberaba, MG.

Ela se encontrava muito frustrada por que aquela era a quinta vez que ia ao encontro do grande Médium com o intuito de receber quaisquer noticias do Além a respeito de seu único filho André, de cuja saudade não se desvencilhava. O máximo que ela conseguia era ter sonhos assustadores onde era conduzida à cena do acidente automobilístico que o vitimara. Ele estava sozinho quando desencarnou.

Quem era André? Que importância ele tinha para a mãe?

Bem, antes de tudo, independente de qualquer coisa, quero enfatizar que todo filho é importante para sua mãe. Não existe para o coração materno, filho menos ou mais importante. Ocorre que André, como já disse antes, era filho único, além de arrimo de família. Era ele quem sustentava a mãe, pois o pai os havia abandonado.

Cedo ainda, empregou-se em uma usina de açúcar na região de Araraquara, SP, onde moravam. Na sequência entrou na escola onde estudava desde então. Quando ocorreu o acidente que o matara ele estava de retorno da universidade onde cursava o último ano de Agronomia em período noturno.

Carinhoso, era muito apegado à mãe por quem nutria o mais profundo amor filial. Ela o cobria de mimos, sem se descuidar dos conselhos maternos que André assimilava a cada dia. Em conversas informais no recesso do lar dizia sempre à mãe que se ele um dia partisse, antes dela, voltaria em pouco tempo para vê-la e dar-lhe noticias.

Creiam-me. Por incrível que pareça, era com base nesta pequena banalidade que a irmã Etelvina agora alugava nosso Médium Maior, que com sua peculiar paciência a ouvia...

- “E, então, “seu” Chico”, dizia ela naquela sua quinta e “frustrada” entrevista, - “até agora nada do André?“. – O que terá acontecido com o meu menino? Por quais razões ele não me dá noticias? Ele sempre foi atencioso e agora me deixa esperando nesta aflição!

- Sabe o que é minha irmã... O André, nosso irmãozinho desencarnou... Morreu! – A senhora vai ter de aceitar essa realidade para tocar sua vida terrena e principalmente para deixar que ele melhor se adapte à sua nova vida no Mundo Espiritual. Hoje as vontades e desejos dele estão subordinados ao Plano Superior que é quem determina as suas atitudes. É por isso que ele ainda não veio cumprir o que lhe prometeu. A senhora precisa ter muita paciência, por que...

- Espere ai, “seu Chico”, - interrompeu Etelvina, - O senhor não pode fazer alguma coisa? Ao que me foi dado entender, “vossa pessoa” é a maior ponte que hoje existe entre a terra e o céu... Até me falaram que o senhor tem os dois pés lá em cima de tanto que o senhor é intimo dos espíritos com os quais o senhor fala “cara a cara!”.

Chico, e quem teve o privilégio de conhecê-lo pessoalmente sabe do que estou falando, também tinha lá seus momentos de extrovertido quando sua veia cômica fluía. Foi assim que, respeitosamente, mas entre sorrisos, respondeu com carinho a irmã Etelvina.

- Sabe o que é minha irmã, o povo às vezes exagera á meu respeito. Eu não sou nada disso que lhe disseram. Eu não exerço nenhum poder nem mesmo aqui na terra quanto mais lá em cima. Na verdade eu não passo de um pequeno e insignificante cisco ou de um burrinho que os espíritos montam e guiam com rédea curta, para difundir a doutrina da terceira revelação de Kardec. O seu filho, como já lhe disse, no momento oportuno lhe mandará noticias... Isso não depende da minha vontade. Se assim fosse com toda certeza eu já teria lhe ajudado... Mais o que ocorre é que “ás comunicações com o mundo invisível” são muito difíceis e “complicadas”, pois “o danado do telefone” só toca de lá pra cá e nunca de cá pra lá. Assim, nada temos a fazer senão rezar e esperar a vontade “deles”.

Á partir daquele dia Etelvina tranquilizou o seu espirito, pois as inquietações que lhes eram causadas pela espera de algo que não depende de nós e que muito a atormentavam agora já não lhe afligiam mais. Entendeu, por fim, a distância que existe entre os nossos desejos fúteis e egoísticos, das vontades das Leis Espirituais e Forças Iluminadas que vibram e governam o Universo.

Muito tempo depois... Quando ela nem mais se lembrava de um dia ter ido à Uberaba em busca de noticias do filho, recebeu em sua casa em Araraquara, um envelope pardo com um calhamaço de folhas de caderno, amareladas, escritas a lápis.

Era André, que pela psicografia de Chico, finalmente se manifestava. Em pormenores, noticiava ali tudo que com ele ocorreu, desde o momento difícil do fatal acidente até o atual, de bênçãos e alegrias em que vivia. E ainda lhe puxava ás orelhas:

- Mamãe querida! – Não, não era o Kiko da Florinda do seriado Chaves-, era o André da Etelvina, - “Eu não lhe disse que voltaria?”.

Chorou copiosamente.  Ali estava a confirmação plena e inquestionável de que a finitude da alma não existe e que Deus não se esquece de ninguém.

E tenho dito!

*Espírita e Escritor.