CONVERSA NO ALÉM VI – PUSA
Conto Espírita.
*Enoque Alves Rodrigues
Tudo começou com uma dorzinha nas costas que em pouco tempo se propagou. O que seria? Alguns dias antes ele se achava tão bem! Seria, pensou ele, algo relacionado à fadiga? Ele trabalhava muito e logo associou aquilo ao seu ritmo frenético de trabalho. Era diretor de uma grande multinacional e para conseguir por tudo em dia era obrigado a estender sua carga horária que nunca era inferior a 12 horas. A empresa TLOKZERO lhe sugava o sangue. Já não dispunha de nenhum tempo para conviver com a família e sua qualidade de vida de há muito que foi para as cucuias. Seus nervos andavam em pandarecos e a sua paciência em frangalhos. Ele estava à beira de um colapso e não sabia. Maltratava a todos que com ele conviviam naquela empresa. Rosnava ordens aos seus subalternos e qualquer pequeno inconveniente era motivo suficiente para esbravejar. Não. Ele tinha de dar um basta naquilo. Do jeito que estava era impossível continuar. Agora a dor persistente lhe assinalava patologia grave, mas ele estava tão envolvido com a lide na empresa que paliava a dor com analgésicos. Ao invés de procurar o médico, se automedicava junto ao farmacêutico.
Um pouco depois do almoço sentiu-se meio tonto. Por alguns instantes pensou estar cochilando. Mas acordou sem saber onde estava.
- Senhores e Senhoras, por favor, homens de um lado e mulheres do outro... Vamos iniciar a sessão de embarque, bradou uma voz suave.
Ouvindo isto ele levantou os olhos e pode verificar que a sua volta se achava uma multidão de pessoas, todas elas colocadas em fila indiana. À maneira que ouviam a voz se posicionavam nos lados masculino ou feminino das filas onde trabalhadores das hostes do invisível se encarregavam de direciona-los cada qual ao destino que fazia jus. Quando a voz chamou o ultimo da fila, ele, surpreso, percebeu que não fazia parte daquela multidão. Pensou até que tivessem lhe esquecido. Baixou a cabeça e ao levanta-la pode ver que não havia mais ninguém a sua volta. Visualizou, destarte, muito ao longe grandes matas, serras e rios pantanosos de onde saiam criaturas assombrosas que seguramente eram oriundas da segunda raça. Lembrou-se de uma máxima que sua mãe já desencarnada dizia: “Quando não souber para onde ir, não saia do lugar.”. Foi o que ele fez.
Depois de um longo tempo...
- Você não é o Tenório?
- Sim, sou. Por quê?
- O que fazes aqui, sozinho?
- Eu estava em meio à multidão e não ouvi meu nome na “chamada oral” da voz misteriosa!
- Você foi chamado, sim. A voz não falha!
- A menos que eu tenha sido chamado por algum nome que eu não conheço...
- Pode ser, disse-lhe o irmão desencarnado Norberto, que com ele conversava.
- Você tinha algum apelido lá embaixo? Na empresa, por exemplo, como lhe chamavam?
- Não sei dizer, mas segundo me falava a secretária, todos me chamavam ás escondidas de nomes feios.
- Pronto, respondeu-lhe a entidade...
- Fechou!
- Como fechou? Fechou o que? Pode me explicar?
- Posso... Você foi chamado, sim. Eu não disse que a voz não falha?
- Sim, disse, mas desta vez ela errou feio por que não me chamou...
- Você que pensa... Chamou, sim!
- E, quando?
- Você não escutou a voz chamando a todo pulmão o nome “PUSA?”.
- Sim, claro. Isto eu ouvi... E daí?
- Daí que era você, negão. Que pena que você perdeu o “aerobus” (transporte no mundo espiritual) para o Nosso Lar e agora vai ter de ficar aqui no veneno durante uma eternidade!
- Eu nada... Jamais ouvi alguém me chamar por este nome. Aliás, nem sei se esse tal de “PUSA” é nome.
- É sim. Não adianta você negar. Na empresa onde você trabalhava devido ao seu trato difícil e desumano aos que o serviam eles o rebatizaram com o nome de “puxa sacos” e de tanto falarem o Plano Invisível acabou por plasmar. De maneira, amigão, que aqui, nestas paragens, “este é o seu nome”.
- Espere um pouco. Não ouvi em nenhum momento a voz chamar “puxa sacos”.
- Mas você a ouviu chamar “PUSA?”.
- Perfeitamente!
- Pois é... São as abreviações do seu nome “Pu” de puxa e “Sa” de sacos... Por certo lhe poupou de maiores constrangimentos diante dos demais!
- O Plano Invisível é justo mais não humilha ninguém.
- Tá bom pra você? “PUSA!”
- Maldição... “PUSA” é a mãe... Vou mata-lo, seu zombeteiro do mal!
- Amigo, quem você ainda imagina ser? Matar a mim? De que jeito se eu já morri!
Fiz este chiste para lhe recomendar que tratar a todos com amor e humildade inclusive no ambiente corporativo deve ser uma premissa de todos nós. Independente de sua posição ou status, todos estão lá, assim como neste mundo, em caráter transitório, inclusive você. Só há uma forma de você eternizar essa transitoriedade: o amor incondicional a tudo e a todos assim como desapegar-se, na medida do possível, das vaidades exacerbadas. Todos precisam de você e você precisa de todos. Seja equânime. Trate e respeite a todos indistintamente. Lembre-se de que para Deus e Seus Anjos, todos nós somos iguais. Para Eles não existem faxineiros ou diretores de empresa. Todos são Seus filhos e como filhos merecem o mesmo Amor Paternal.
Viva Jesus!
Fraternal abraço.
* Enoque Alves Rodrigues é Espírita