CONVERSA NO ALÉM XIII – MARIANA NA ERRATICIDADE
Conto Espírita
*Enoque Alves Rodrigues
Mariana Durães Pedrosa vivia na Cidade de Diamantina, MG, nos tempos do Brasil Império. Exercia grande influência sobre a sociedade local devido pertencer à família abasta daquela região. Os pais haviam nascido em Mariana, dai o seu nome, tendo se mudado para Diamantina quando ela ainda era pequena. Lá cresceu, estudou no único colégio que havia, casou-se, constituiu família e, na sequência, enveredou-se pelos caminhos da Monarquia. Tinha ela o poder de mandar prender e soltar. Ela era a toda poderosa. Ali, naquela riquíssima e diminuta Cidade onde o reluzir do ouro ditava as normas em nome de “El Rei de Portugal” os menos favorecidos andavam sobre o fio da navalha. Salvo a pequena parte do que ficava com o “senhor da mina”, todo o ouro garimpado ali era encaminhado ao Rei, cuja história nefasta todos nós já conhecemos desde o primário.
Muitos ali, no afã de auferir-se de alguns grãozinhos perderam a vida. Os que rebelavam contra o regime eram condenados á morte violenta e cruel dai surgiram grandes mártires sendo o mais famoso deles o Alferes Inconfidente Joaquim José.
Mariana era dona de várias minas. Mandou trucidar muita gente. No entanto, seis anos após a morte dos pais, ela também retornava ao mundo espiritual para assim prestar suas contas para com o pretérito infalível e implacável. Depois de ter passado por vários estágios onde amargou terríveis experiências agora estava ela ali na erraticidade que é o estado onde o espírito que necessita de reencarnação na Terra aguarda, ansiosamente, o momento de retornar.
Setenta anos depois, a setenta quilômetros da superfície do Orbe Terrestre, duas imensas assembleias se formaram. Estavam ali com a missão de definirem os destinos que dariam ao espírito de Mariana em sua nova peregrinação pela terra, ou seja, em outra oportunidade de encarnação.
De um lado estava o representante das escórias do mundo espírita que são os impuros que animaram aqueles que fraquejaram em suas missões por aqui, agora, malvados e zombeteiros, que só se realizam na maldade. Do outro lado se achava o representante dos espíritos puros que foram desencarnados de seres que em vida trilharam pelos caminhos do bem e do amor incondicional ao próximo. Ao meio, claro, estava Mariana Pedrosa, doidinha da Silva para que definissem logo sua situação. Não aguentava mais tanta espera e sofrimento.
Dizia o chefe da Assembleia dos Puros e Bons, de nome Clarismundo:
- Ela já atingiu o grau de desenvolvimento suficiente que a permite encarnar-se nas baixas camadas da terra aonde tutelada por gênios e anjos da guarda atingirá em pouco tempo a evolução necessária que lhe permitirá um próximo retorno ao Nosso Lar!
- Negativo! Respondeu Sugismundo, chefe da assembleia de espíritos impuros e maldosos, nesse caso você estaria contrariando a justiça divina. Essa irmã em sua ultima encarnação só fez os outros sofrerem. Matou, roubou, adulterou...
- Sabemos de tudo isso, irmão, mas não podemos esquecer de que essa nossa irmã já está aqui há setenta anos onde passou por dissabores que se não a quitam, pelo menos a deixam próximo de uma condição melhor. Se não lhe dermos esta oportunidade ela nunca vai conseguir expiar seus débitos e ai sim, estaríamos contrariando a Justiça Divina.
- Não estou de acordo... por muito menos eu fui jogado aqui nesse inferno de onde não consigo sair...
- Não podemos atribuir aos outros o peso de nossa cruz. Temos de ser justos... Deus é Justiça..., respondeu-lhe o Anjo Clarismundo.
- Anjo Clarismundo?
- Pois não, Anjo Sugismundo!
- Posso lhe perguntar uma coisa?
- Pode claro... como não?
- Satisfaça-me uma pequena curiosidade...
- Diga, por favor!
- Em nossa hierarquia, qual é a minha patente?
- Chefe dos espíritos impuros... por quê?
- Muito bem. É tudo que eu queria ouvir. Sendo assim, o especialista em maldade aqui sou eu... ninguém melhor credenciado para julgar a maldade desta nossa irmã... O que ela fez lá embaixo não tem perdão... Quinhentos anos ainda a separam de uma nova oportunidade!
- Vou empurra-la para o lamaçal onde a escuridão não lhe permita vê-la...
- Pois é, meu caro Sugismundo. Este é o motivo de você ainda se achar preso a estas vibrações negativas. A maldade que você insiste em ostentar mesmo tendo se desencarnado há tanto tempo, é o cordão umbilical que lhe prende a este pântano.
Mariana apenas escutava aquele diálogo entre o bem e o mal onde, não obstante estarem ali decidindo o seu futuro ela que tão importante foi aqui embaixo, ali não passava de uma reles telespectadora de si mesma. Pensou interceder... Recuou. Ela não tinha argumentos suficientes. Só que aqueles dois grandes tudo veem e não demorou muito para notarem a apreensão de Mariana.
- A senhora deseja falar alguma coisa? O que tem a nos dizer? Ele ai, o Sugismundo, está querendo mandar à senhora “para lá”. – Disse isto apontando para um caminho reto e largo que levava a uma imensidão de um azul sem fim.
- E o que é aquilo? É o Céu? – Quis saber Mariana.
- Não... é o inferno, disse-lhe o Anjo Clarismundo... Ele quer leva-la para lá!
- E o senhor, Anjo Clarismundo, quer me mandar para onde?
- Para a Terra, claro... lá a senhora vai poder reencarnar em condições inferiores para poder em pouco tempo resgatar os seus débitos e assim...
Não conseguiu concluir o raciocínio. Mariana não permitiu.
- Como pode o inferno ser tão bonito, meu anjo? Quem foi que disse que eu quero ir para a terra? Olho lá embaixo e só vejo aquele azul indefinido devastado pelas destruições, violências, desordens, roubos, assassinatos e todo tipo de inenarráveis desgraças aonde o mal prevalece sobre o bem e nada mais se consegue ver além de vibrações densas e negativas onde gama infinita de espíritos imundos de vários credos reside...
- Não quero retornar para lá coisa nenhuma... se me é dado o direito de uma livre escolha eu já escolhi...
- Eu prefiro ir para o inferno... lá, pelo menos, eu só tenho de me preocupar com o capeta. Já na terra...
Bem. Nesse caso, fazer o que?
Desolado e meio que surpreso, o bom anjo Clarismundo ainda conseguiu ouvir o anjo mal Sugismundo dizendo a Mariana...
- Vamos, então... já perdemos muito tempo com esse cabeça dura!
- E ainda, em deboche, mirou o rosto Iluminado do bom Anjo Clarismundo e num escárnio próprio dos espíritos que habitam as profundezas dos abismos, rosnou...
- Dessa vez já era... Você Perdeu Playboy!
É...
Diz a Bíblia...
“Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso é o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; E porque estreita é a porta, e apertado é o caminho que leva à vida eterna, e poucos há que a encontram” - 14. ”.
* Enoque Alves Rodrigues é Espírita
Visitem meus sites de temática espírita em linguagem simples.