SEM TEMPO PARA DEUS!

SEM TEMPO PARA DEUS!

*Enoque Alves Rodrigues

Não só no que tange ao espiritismo, mas em quase toda e qualquer Religião ou Doutrina Filosófica, a maioria de nós quando, com a língua de fora, bate à porta de uma delas quase sempre estamos em busca do alivio imediato para os males que nos atormentaram durante toda a vida sem que em momento algum tivéssemos lá no passado a iniciativa de buscar o socorro que assim como na Medicina Humana, muitas vezes chega quando nada mais é possível ser feito para salvar o doente.

Em outras culturas e aqui vou tomar como base a oriental, a prevenção do corpo e da alma é apresentada à criança a partir do berço. É comum naquele continente o individuo antes mesmo de atingir a adolescência já ter claro e definido sua religião, profissão e condição social e até econômica. Significa dizer que ao contrário de nós, ocidentais, com raras exceções, eles não são chamados pela dor, mas pelo amor. Não necessitam sofrer para encontrar o caminho.

Em sites que mantenho sobre essa temática já fiz vários relatos de como cheguei ao espiritismo. Não foi fácil. Isso ocorreu há exatos quarenta e um anos, mas parece que foi ontem. Ainda hoje devo admitir, sem constrangimentos apesar de não ser esse um bom exemplo para os mais jovens, que, não sendo eu frequentador assíduo das casas espíritas, muitas vezes as busco frequentemente, aliás, com uma assiduidade e pontualidade de relógio Inglês sempre que algo parece não estar bem pro meu lado. Fazer o que? Sou humano ainda em busca da plenitude do crescimento. Os Espíritos de Luz que habitam o Plano Superior já me conhecem. Quando me veem, todo simpático e sorridente, adentrar a Federação Espírita já vão logo dizendo: “Lá vem aquele pidão de novo. O que terá acontecido com ele desta vez? O que será que ele quer agora?”.

Percebeu? É exatamente isso que acontece à maioria. Vai à Federação ou Casa Espírita apenas para pedir alguma coisa para si ou para os outros. Raramente toma a decisão de visitar essas entidades espontaneamente, para agradecer, ou quando se está navegando em mares de rosas ou sobrevoando o Paraiso em Céu de Brigadeiro. O individuo chega nesses locais com um rosário de pedidos aos espíritos onde se pede de tudo inclusive para toda a família até a oitava geração. Isso geralmente é feito na saída quando deixa seus pedidos na “caixa de vibrações” depois de terem assistido à palestra e tomado o passe magnético.

Apressados e ligados à tomada de 220 volts de suas preocupações mundanas fora do ambiente espírita se esquecem do principal: é indispensável que cada um passe antes no setor de atendimento onde após breve narrativa do que lhe aflige recebe um cartão com o qual deverá retornar pelo tempo que for estipulado, sempre no mesmo dia da semana, quando o cartão é picotado ainda na fila. Antes de entrar para a palestra.

É muito natural eu receber via sites pedidos de conselhos espirituais. Quase sempre após alguns “dedinhos de prosa” acabo recomendando ao interlocutor, visitas à Federação ou Centros Espíritas sérios.

É nesse instante que a coisa se esvai. Degringola-se, pois apesar desse pequeno sacrifício ser algo tão simples e comezinho de se fazer, ás pessoas se afastam.  Somem e assim como surgiram em meu site ou e-mail desaparecem. Evaporam-se. Não vão ou se foram não retornam o contato.

Vivemos numa sociedade que não dispõe de tempo para nada. A lei do salve-se quem puder na selva de concreto aonde somente o mais forte sobrevive, está se tornando cada dia mais cruel. O homem já não tem tempo para Deus. Não tem tempo para conviver com a família. Não tem tempo nem vontade de praticar a caridade. De acolher o menos favorecido. Solidariedade, então, nem pensar. Desejar o bem ao próximo já não faz parte da vida Urbana. A sociedade tem muito mais o que fazer. Ela tem de consumir. Meu Deus, consumir o que? Consumir de tudo! A sociedade consome feijão, carros de luxo, televisão e computadores de ultima geração, tecnologia bélica avançada, etc. Não tendo mais nada para devorar, a sociedade, incontinenti, avança contra a própria Célula Mãe num desespero sem fim de autodestruição. É ai que entram as armas com as quais ceifam vidas, assim como as drogas e todo vicio pernicioso. Nossa sociedade há muito tempo perdeu suas referências. Hoje, não há em nós o menor resquício da pureza com a qual nascemos e que herdamos da raça ariana. A cada dia que se passa nos distanciamos mais do Alfa e do Ômega, do principio e do fim, do Deus Supremo, Dono e Criador de todas as coisas.

Apequeno-me diante de tanta duvidas. O que terá acontecido com o nosso mundo? Em que curva do tempo e do espaço, deixamos as nossas virtudes? Não obtendo resposta convincente, peço então a ajuda dos universitários. Pobres diabos queimam pestana tentando me ajudar o que agradeço mais no final também nada conseguem agregar. Dão-me, via de regra, respostas furadíssimas. Nem vale a pena comentar.

Foi na calada da noite que me ecoou aos ouvidos um fiozinho de voz: “acorda seu tonto”... A resposta que você busca está diante de seu narigão. Você já respondeu lá em cima, burrinho. Ou você não lê o que você mesmo escreve? Te manca, meu! Os terráqueos agora em dezembro se lembrarão de Deus mais é só passar essa época e tudo volta a ser como antes ai no Quartel de Abrantes... Só tem um detalhe, negão: até nesses momentos festivos o seu povo primeiro tem de consumir para depois falar do Onipresente e de seu Filho. É como vocês dizem ai embaixo: “Saco vazio não para em pé”. Falando nisso, você já reservou seu peruzinho para este Natal? Ou vai nos dizer que você é diferente! A propósito, meu nego, você vai jejuar? O que você também vai Nos pedir em troca por este sacrifício? Um carro novo? Uma bela casa? Mais dinheiro no bolso e saúde pra dar e vender? Bem, este último quesito vocês costumam pedir no fim do ano, invariavelmente com a barriguinha empanturrada. E, ao redor de uma mesa com toalha branca, qual saci Pererê, com uma perna só, dando pulinhos frenéticos à maneira que vão comendo doze uvinhas. Vocês não sabem minhas crianças sapecas, mas nós também, daqui de cima, nos divertimos muito com as suas manias.

Pois é...

Assim sendo, retorno-me ao meu bando. Á sociedade que ainda integro neste Plano. Caititu fora de manada é papo pra onça.

E tenho dito.

*Enoque Alves Rodrigues é espírita